Lamento

Sinopse


No início do século XX, Luísa Grande era uma vagabunda, uma mulher de classe alta que caminhou sozinha, depois da morte da mãe, da morte do pai e da morte do casamento, afrontando a sociedade fascista, entre Lisboa, Portalegre e Funchal, gozando a solidão entre paisagens onde espelhou uma obra pungente, que dilui as fronteiras entre interior e exterioridade, correspondendo-se muitas vezes com uma Joaninha que talvez seja outra que não ela. Sob o pseudónimo Luzia, assinou os dois livros nos quais nos inspiramos para criar um espetáculo que é uma caminhada, em que a solidão surge iluminada através das plantas e o corpo é uma aproximação vegetal ao mundo.

O processo de construção desta caminhada começa na proposta feita às escritoras Judite Canha Fernandes e Isabela Figueiredo para que elas, mulheres também solitárias, discorram sobre as paisagens que percorrem cerca de 100 anos depois de Luisa Grande, correspondendo-se entre Janeiro e Maio de 2025, a partir de diferentes geografias. Por que é que caminhar é tão importante? Como é que os passeios aparecem na poesia? Que muitas formas encontramos de percorrer um trajeto, narrando as idas e vindas na longa amizade entre a caminhada e o pensamento, e mostrando o que a caminhada oferece do ponto de vista filosófico e humano às artes contemporâneas e à sociedade.

Lamento é um trilho onde as paisagens, as mulheres que as atravessam e os tempos em que o fazem, se justapõem, sobrepõem e afastam numa composição que oscila entre a concretude das copas das árvores e o imaginário ermo da solidão, em que a voz da Surma (que faz a interpretação e criação musical, a partir de sons captados em contexto de residência na Serra de S. Mamede) mapeia os lugares sensoriais e imaginários da vida de Luzia, dialogando com a crueza das paisagens na voz de Cátia Terrinca (cujas palavras ditas e entoadas, são nascidas da dramaturgia de Ricardo Boléo a partir dos contributos das três escritoras em diálogo). Pela reflexão que o projeto propõe sobre o espírito dos lugares, foi lançado o convite à Escola Secundária de São Lourenço (Portalegre) para que nos acompanhe na criação, envolvendo alunos e professores das disciplinas de Português, Filosofia e Educação Física, na procura de possíveis itinerários e dramaturgias através de um conjunto de oficinas exploratórias (à semelhança do que, com sucesso, foi feito em IRRAR, em 2024), mas desta vez convidando a comunidade educativa a fruir do paisagem protegida do seu concelho, fazendo do exterior mais do que um espaço de passagem entre dois interiores.

Ficha Técnica e Artística


Criação – UMCOLETIVO
Textos – Luzia, Judite Canha Fernandes e Isabela Figueiredo
Dramaturgia – Ricardo Boléo
Interpretação – Cátia Terrinca
Música e Sonoplastia – Surma
Desenho de Luz – João P. Nunes
Figurinos – Raquel Pedro
Espaço Cénico – Bruno Caracol
Produção – Luís Graça
Mediação e Públicos – Rui Salabarda
Apoio Técnico – Ivo Reis, Sara Santos e Xavier Guerreiro
Apoios – Direção Geral das Artes, Municípios de Portalegre, Avis, Elvas, Funchal e Ponte de Sor, Centro de Artes e Espetáculos de Portalegre, Junta de Freguesia de Ribeira de Nisa e Carreiras