Edição
Resgatar vozes esquecidas é recuperar a palavra em todas as suas formas: a palavra proferida, a palavra ouvida, a palavra anotada, e também a palavra escrita, que muitas vezes nos é o único material direto vindo até nós de muitas mulheres. Se é verdade que o impacto das criações poéticas decorrentes no projeto VENTRILOQUIA poderá ser duradouro na memória dos espectadores e intervenientes (afinal, a memória é o arquivo orgânico por excelência) também é certo que o material produzido por estas mulheres merece ter o seu suporte físico, garantindo o seu lugar imorredoiro na história da literatura portuguesa.
As obras que se publicam na Coleção VENTRILOQUIA são exemplos criteriosamente selecionados, tanto pela diversidade (concetual, vivencial, geográfica) como pela proximidade que têm com os espetáculos realizados, numa colaboração editorial com a Livraria Tivre de Papel.
Maria da Graça Varella Cid
Poesia Incompleta

Poesia Incompleta é o primeiro dos livros da coleção Ventriloquia, da UMCOLETIVO e da Tigre de Papel, que pretende dar a conhecer obras de mulheres que escreveram em língua portuguesa no século XX.
«Publicar a Poesia Incompleta de Maria da Graça Varella Cid, no ano em que a autora completaria noventa anos de vida, é um gesto urgente, ainda que tardio, pela justiça e beleza que lhe estão inerentes. Maria da Graça Varella Cid publicou títulos de poesia, como Ao Nascer do Sol (1945) ou Êxtase (1948), que mais tarde veio a rejeitar por terem sido escritos quando era ainda muito jovem e, portanto, num momento em que a sua escrita não teria a maturidade que posteriormente a própria reconhecerá como sua. A procura formal, rítmica e melódica – talvez mais até do que as temáticas – cunham a poesia da escritora: meticulosa a cada compasso poético, na sonoridade com que as palavras se abraçam e no tempo de que precisam, entre elas, para formarem ideias respiradas. Em adulta, Varella Cid editou Tríptico de Sábado (1963), Perfeito do Indicativo (1982) e Demonstração a Giz (1984). Depois da sua morte, publicou-se Acto do Corpo (1996). Há menção a dois textos inéditos que não foram encontrados e há, finalmente, os até aqui inéditos A Invencível Armada e A Pausa e o Lugar.» (do Prefácio de Cátia Terrinca e Ricardo Boléo.)



O lançamento de estreia do livro POESIA INCOMPLETA foi realizado no Teatro SÃO LUIZ a 10 de Fevereiro de 2023, com presença de Cátia Terrinca e Ricardo Boléo (UMCOLETIVO) e Fernando Ramalho (Tigre de Papel).
O livro está à venda em livrarias de Lisboa, incluindo a Livraria Tigre de Papel e a Livraria Snob
autor/a | Maria da Graça Varella Cid |
editora | Tigre de Papel |
ano de publicação | 2023 |
n.º de páginas | 424 |
Maria João Carvalho
Depois de Marte

Maria João Carvalho nasceu a 24 de junho de 1961 e foi repórter de guerra em Angola, na Croácia e na Bósnia, primeiro para a RTP, RDP, Diário de Notícias e Tal & Qual e, depois para a SIC, Renascença e Diário de Notícias. Foi jornalista na Lusa, EuroNews, no Macau Hoje, RGT-Rádio Gest e correspondente do jornal Expresso das Ilhas de Cabo Verde; colaborou com a revista Homem Magazine, com a revista do Instituto do Emprego e Formação Profissional e com jornais regionais de todo o país. É fundadora da Associação Portuguesa de Jovens Jornalistas. Expôs fotografias de guerra em Macau, em Portugal continental e nos Açores e pinta a acrílico. Publicou o livro Da guerra e outros poemas (GRESFOZ, 1997) e os contos A Cobra e UMA na Coletânea Gabravo (Artdomus, 2002). Maria João Carvalho também assina como Janine de Medeiros. Publicamos agora diários e poemas que correspondem a geografias e coordenadas diferentes mas fica a sensação de que pode ser sempre o mesmo lugar: Sarajevo, Palestina, Ucrânia, Angola… Os lugares onde Maria João Carvalho esteve e onde não esteve misturam-se na ideia de que a iminência da guerra é mais voraz que o receio ou o descaso que podemos ter em relação àquelas que conteceram, às que acontecem agora ou às que acontecerão com ou sem avisos prévios. A paz é preciosa e é preciso ser cuidada: como o amor ou a temperatura de um chá ou a partilha de um qualquer biscoito. Os diários de guerra de Maria João Carvalho constituem um importante documento histórico-político e são um murro – vários murros! – no estômago. Os poemas são o contraciclo dos diários – a luz é a reminiscência, o que da guerra vem impresso na carne e a que não se consegue renunciar. O lastro do ódio reluz e trazêmo-lo estampado na pele, porque somos todos carne da mesma carne.
autor/a | Maria João Carvalho |
editora | Tigre de Papel |
ano de publicação | 2024 |
Alice Sampaio
PENELOPE - A Infanta Volumes I e II
Alice Sampaio nasceu em Mido, no distrito da Guarda, a 18 de março de 1927. Estuda Farmácia em Coimbra, curso que concluirá na Universidade do Porto já após o casamento. A partir de 1951 reside em Angola, onde nascem os seus quatro filhos. Envolvida na contestação à ditadura e no movimento feminista, é “convidada” a sair de Angola pelas autoridades do regime, regressando a Lisboa em 1959.
Publicou os romances A Cidade Sem Espaço (Livraria Bertrand, 1961), O Aquário (Livraria Bertrand, 1963) — Prémio Revelação da Sociedade Portuguesa de Escritores em 1963 —, O Dom de Estar Vivo volume I e volume II (Editora Arcádia, 1967) e Penelope volume I (edição de autor, 1977). Para teatro publica D. Leonor, Rainha maravilhosamente (Dilsar, 1968) — levada à cena no Teatro Municipal de São Luís em 1979 com encenação de Norberto Barroca — e A Rua da Ronda (edição de autor, 1969).
Alice Sampaio morreu em Lisboa em maio de 1983.

«Alice Sampaio publicou o primeiro volume de Penelope em 1977, tendo sido a última obra publicada em vida da autora. Penelope era um projeto de escrita de grande fôlego para o qual a autora previra doze volumes. Sem tempo de vida que tenha permitido escrevê-los, deixou-nos o segundo volume, até aqui inédito, preparado para publicação. É chegada a hora de reunir e publicar os dois volumes de Penelope, no momento em que se assinalam quarenta anos sobre a morte de Alice Sampaio. (…)
Alice Sampaio reescreveu Ulisses com as histórias e as conversas, com a máquina de escrever. Sonhou Penélope com o corpo, com a terra, com o próprio tempo. É tão antiga que nos encontramos nela – é também tão recente, não é?
Entre silêncios de estrelas, Alice Sampaio rasurou, reescreveu os textos embora o sopro da leitura nos remeta para uma ideia de escrita incansável, infindável, infinita. Infinita como as estrelas o são, como os poemas.» (Do prefácio de Cátia Terrinca e Ricardo Boléo.)
O livro está à venda em livrarias de Lisboa, incluindo a Livraria Tigre de Papel e a Livraria Snob
autor/a | Alice Sampaio |
editora | Tigre de Papel |
ano de publicação | 2023 |
n.º de páginas | 520 |
Luísa Demétrio Raposo
O Fogo do Fogo no Fogo

Luísa Demétrio Raposo procura a realização feminina através de uma literatura assumidamente erótica, em que a palavra se ocupa de boca, da boca como um lugar evidentemente sexual, convidando a voz a atravessar a pele ao arrepio. A boca diz, sussurra, grita, esconde, devora, canta qualquer palavra que a excite e exorte o corpo ao prazer que lhe é próprio: somos feitos de prazeres. E quando queremos conhecer o mundo e interromper a escuridão, atravessamos o corpo das nossas mães caminhando sobre um funâmbulo de dor sublime que nos faz chegar, irreconhecíveis e inimagináveis, ao lado de fora do corpo. E o beijo da vulva é o nosso primeiro oráculo. Nascemos do prazer com que as nossas mães negoceiam com a morte. O ideal romântico e amoroso que oprime o corpo feminino que “dá à luz” é vigorosamente desafiado por Luísa Demétrio Raposo – que desafia o tempo porque o atravessa: a Luísa está depois das academias, depois das ordens, depois dos congressos. A liberdade com que escreve afronta aqueles que nunca amaram, escreveram, foderam, pariram. (Do prefácio de Cátia Terrina e Ricardo Boléo)
– Posfácio de Maria Estela Guedes.
autor/a | Luísa Demétrio Raposo |
editora | Tigre de Papel |
ano de publicação | 2023 |
n.º de páginas | 136 |
Salette Tavares
Cartas e Letras de Pedro Sete
O presente volume reúne a produção de Salette Tavares em torno da sua personagem (pseudónimo? heterónimo?) Pedro Sete. Incluí o livro de 1965 14563 Letras de Pedro Sete, a «Carta a Pedro Sete», de 1967, e «Dois Poemas Quase Inéditos de Pedro Sete». Inclui um posfácio de Rui Lopo.
autor/a | Salette Tavares |
editora | Tigre de Papel |
ano de publicação | 2024 |
Maria Mello Giraldes
Obra Reunida
«Maria Mello Giraldes escreve iniciaticamente sobre o corpo, de ser corpo, o corpo como fronteira e… o silêncio. Escreve, parece, como forma de renascimento ou de reencarnação – acto carnal – mas leve, de direção aberta ao passado e ao futuro em simultâneo. O tempo, para lá das arestas da pele, tem o tempo dos ossos e das estre[1]las – essa matéria onde a maternidade se esconde e nos devolve a face no rosto indivisível dos filhos. Se todos somos filhos, então somos todos feitos do futuro cósmico que Maria, a mãe, convoca para a sua obra.» (Do prefácio de Cátia Terrinca e Ricardo Boléo.) Este volume reúne a obra poética de Maria Mello Giraldes, incluindo 5 Espaços (&etc, 1983) e Seis Momentos (Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1988), bem como os inéditos Milénios e Memória da Matéria. Posfácio de Isabel de Sá.
autor/a | Maria Mello Giraldes |
editora | Tigre de Papel |
ano de publicação | 2024 |
Orlanda Amarílis
Contos

«Editar os contos de Orlanda Amarílis é ir ao interior de um vulcão e escutar a lava de quem, ao longo de tantas vidas, foi feito de silêncio. O apagamento de vários anos que desejamos que se subverta é não só aquele que recai sobre a obra da autora editada: são as vidas ficcionadas que desfilam e são mapeadas em seus contos, desfazendo fantasmas e vazios para compreender uma raiz que, afinal, é mesmo impossível de arrancar. Orlanda Amarílis descreve os lugares e as personagens pela linguagem, fá-las serem absolutamente transversais, imaginadas mas reais. Os apontamentos de palavras em crioulo cabo-verdiano não formam frases, antes expressões idiomáticas. Ao longo das leituras, perguntámo-nos muitas vezes em que língua teria escrito hoje Orlanda Amarílis, depois de a língua cabo-verdiana se ter afirmado além do crioulo, sob o ponto de vista político. Talvez estes contos não fossem património da língua portuguesa. Não sabemos. Não saberemos. Se o são, que nos sirvam o pensamento coevo para perspetivar o peso colonial sobre o corpo desta obra e de cada uma das suas personagens.» (Do prefácio de Cátia Terrinca e Ricardo Boléo)
Livro integrado na colecção Ventriloquia, parceria com Um Colectivo.
ano de publicação | 2024 |
autor/a | Orlanda Amarílis |
editora | Tigre de Papel |
n.º de páginas | 432 |